sábado, 9 de junho de 2012

Teoria da Agência e Governança Corporativa


No início do século passado, os conflitos entre os diversos interesses envolvidos nas empresas e os chamados custos de agência, não eram tão relevantes, pois a propriedade e o controle das grandes empresas estavam nas mãos dos indivíduos chamados de “capitães da indústria”. A crise econômica de 1929, que acarretou grandes perdas para investidores, e o surgimento das grandes corporações levaram à desconcentração da propriedade e à criação de um novo modelo de controle empresarial, em que o principal, o titular da propriedade, delega ao agente o poder de decisão sobre essa propriedade. Uma vez que os interesses do primeiro nem sempre estão alinhados aos do último, podem ocorrer conflitos de agência.

Uma das teorias desenvolvidas para solucionar tais conflitos foi a teoria da agência, formalizada por Jensen e Meckling, que também desenvolveram um modelo de custos de agência para os acionistas. Na teoria da agência, a sociedade é concebida como uma rede de contratos, explícitos e implícitos, os quais estabelecem as funções e definem os direitos e deveres de todos os participantes – principal e agente; este se situa no centro das relações em todos os interessados na empresa – empregados, fornecedores, clientes, concorrentes, acionistas, credores, reguladores e governos.

Como, devido à separação entre a propriedade e a gestão, quem exerce, efetivamente, o controle são os administradores das companhias, ocorre uma assimetria de informações, pois o agente tem acesso a dados a que o principal não tem. A hipótese fundamental dessa teoria é que as pessoas têm interesses diferentes e cada uma busca maximizar seus próprios objetivos.

Ao abordar relações econômicas bilaterais entre o principal e o agente, a teoria da agência apresenta três condições: o agente dispõe de vários comportamentos possíveis de adoção; a ação dos agentes afeta não apenas seu próprio bem-estar mas também o do principal; as ações do agente dificilmente são observáveis pelo principal, por haver assimetria informacional entre as partes.



Os conflitos de interesse geram custos, pois são necessárias medidas para monitorar os administradores, as quais incluem: contratação de auditoria independente; implementação de medidas de controle; gastos com seguros contra danos provocados por atos desonestos de administradores; estabelecimento da remuneração dos agentes vinculada ao aumento da riqueza dos acionistas, como a concessão de ações ou opções de ações aos administradores e outros incentivos ao alinhamento dos interesses entre estes e a administração. Os custos de minimização do conflito de agência são denominados custos de agência.

Para reduzir os conflitos de interesses, se faz necessário utilizar mecanismos de governança corporativa.

Referências:
 
ANDRADE, Adriana; ROSSETTI, José Paschoal. Governança Corporativa: fundamentgos, desenvolvimento e tendências. 5. ed. São Paulo: atlas, 2011.
SILVA, André Luiz Carvalhal da. Governança corporativa e sucesso empresarial: melhores práticas para aumentar o valor da firma. São Paulo: Saraiva, 2006.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

A formação do administrador no Brasil: problemas e desafios

Recentemente li algumas coisas à respeito da formação do administrador de empresas e a realidade vivida no mercado brasileiro. E este assunto me chamou a atenção depois que uma aluna me relatou a experiência vivida por um colega dela. Segundo ela, este colega, após uma boa formação, com boas notas, dedicação e estudo resolveu abrir seu próprio negócio em seu bairro. Em pouco tempo seu negócio quebrou. E ele passou a questionar: "durante todo o meu curso, eu li vários textos, casos de empresas como HP, Microsoft, Dell... Vi situações que serviam como boas práticas, mas não consegui aplicar em meu pequeno mercadinho".

Também li uma reportagem à respeito do assunto publicada na Revista Brasileira de Administração, que trata das preocupações e desafios dos jovens recém-formados em Administração. Segundo os próprios recém-formados, o aluno sai da academia cheio de ideias, mas não consegue colocá-las em prática pela resistência do próprio mercado.

Eu vejo que a questão é mais complexa do que parece. Temos uma profissão com a maior quantidade de cursos no Brasil. E o país precisa, de fato, de bons administradores para gerar desenvolvimento. No entanto, temos alguns problemas em relação à formação deste profissional:
- A formação em si é muito generalista. Isto tem um ponto positivo, porque o profissional tem uma visão geral sobre as áreas de uma organização. No entanto, ele é superficial em todas as áreas. Ele concorre com vários profissionais que tem conhecimentos mais direcionados e apurados em determinadas áreas. Como consequência, se torna mais difícil competir com estes profissionais.
- A formação generalista ajuda a ocupar cargos mais elevados em uma organização. No entanto, nossa estrutura de mercado é basicamente formada por pequenas empresas, onde o próprio dono do negócio dirige a organização. 
- Administração é um das profissões mais difíceis de exercer, porque lida com muitas variáveis, correlacionadas e que envolvem tanto aspectos internos quanto externos à organização, diferente de muitas profissões, onde a estrutura de tomada de decisão é mais simplicicada, previsível e direcionada (ver vídeo de Stephen Kanitz abaixo):


- A condução e operacionalização dos conteúdos ministrados nas instituições de ensino são extremamente teóricos e estáticos. Os alunos não são treinados para identificar problemas e propor soluções dentro dos assuntos abordados, e vivem em um processo de "estudar e decorar conteúdo". Não são colocados em situações para resolvê-las. Os próprios estudos de caso não são direcionados para realidades locais, o que dificulta o entendimento e aprendizado dos assuntos.
- A estrutura curricular não favorece a especialização do profissional, muito menos o aprendizado prático dos assuntos vistos em sala de aula. Há um distanciamento nítido entre academia e mercado.

Neste sentido, acredito que o ensino em Administração e a formação deste profissional precisa ser modificada. Um dos pontos relevantes se refere à estrutura curricular, onde as disciplinas precisam ser mais direcionadas e práticas, com foco literalmente em mercado e para a resolução de problemas inerentes às organizações na realidade atual. Os exercícios devem ser direcionados para estudos de casos reais e a metodologia de ensino deve favorecer a participação contínua do aluno na construção da disciplina. Os assuntos simplesmente não podem ser jogados.

O aluno deve ser preparado desde a academia, durante o curso, a escolher uma área de atuação, em um ramo de atividade e área funcional, estimulando-o também a realizar trabalhos (consultoria e pesquisa) e a atuar de fato em sua área de interesse durante o curso, para ajudá-lo na especialização do conhecimento.

Além disso, é importante que as instituições de ensino estejam próximas do mercado. Algumas já possuem uma postura proativa neste sentido, até pela situação mercadológica de competição forte que se tem sobre o setor de ensino no Brasil, ou seja, pela necessidade de realização. Esta aproximação deve estimular a formação prática do aluno, através de projetos que devem ser desenvolvidos nas empresas e supervisionados pelas próprias empresas e pelas insituições de ensino. Eu considero que palestras e eventos são importantes, mas são apenas exemplos colocados aos alunos, não operacionalizam o conhecimento adquirido na academia. Não adianta ler um caso de sucesso ou assistir uma "palestra show" se a idéia não é colocada em prática. É importante a formação de grupos de estudo, consultoria e centros de treinamento para estes alunos.