Um dos modelos mais
conhecidos e aplicados no contexto acadêmico recente envolvendo capacidades
dinâmicas foi desenvolvido por Wang e Ahmed (2007). Os autores estabelecem a
capacidade dinâmica como sendo uma orientação comportamental constante da
empresa em integrar, reconfigurar, renovar e recriar recursos e capacidades,
atualizando e reconstruindo capacidades básicas em prol de um desempenho
superior, considerando as capacidades como habilidades desenvolvidas pela
organização, de acordo com a Figura 3. Para Wang e Ahmed (2007), as capacidades
dinâmicas podem ser classificadas em três fatores ou componentes:
- Capacidade absortiva:
habilidade de a organização reconhecer o valor de uma informação nova externa,
e, além disso, assimilá-la e aplicá-la;
- Capacidade adaptativa:
habilidade da organização em aproveitar oportunidades no mercado;
- Capacidade inovativa:
habilidade da organização em desenvolver novos produtos e/ou mercados e
alinhados ao contexto estratégico organizacional.
Segundo os autores, a formação de capacidades dinâmicas no
meio organizacional se dá por meio de processos específicos da firma,
associados à integração, reconfiguração, renovação e recriação. Estes processos
ajudam a criar capacidades com características comuns relacionadas à absorção,
adaptação e inovação, que, se alinhadas ao contexto ambiental de mercado, podem
se tornar dinâmicas e se desenvolverem, alinhadas à estratégia organizacional,
de modo a provocar uma melhoria de desempenho, e consequentemente, uma vantagem
competitiva.
Assim, como forma de
sintetizar as semelhanças e diferenças conceituais acerca dos principais
estudos que trataram sobre a construção epistemológica das capacidades
dinâmicas, tem-se o Quadro em sequência:
Autores |
Definição de capacidades dinâmicas |
Teece
e Pisano (1994); Teece, Pisano e Shuen (1997) |
Enfatiza o papel-chave da
administração estratégica em apropriadamente adaptar, integrar e reconfigurar
interna e externamente a capacidade de organização, recursos e competências
funcionais, requeridas pela mudança do ambiente. |
Eisenhardt e Martin
(2000) |
São processos que usam recursos,
especificamente os processos para integrar e reconfigurar recursos
correspondentes às mudanças no mercado ou para criar mudanças no mercado. |
Winter (2000; 2003) |
Envolve uma rotina (ou coleção de
rotinas) de alto nível que, em conjunto, conferem a gestão de uma organização
um conjunto de opções de decisão para produzir resultados significativos a um
tipo particular. |
Helfat e Peteraf (2003) |
Envolve adaptação e mudança organizacional,
por meio da construção, integração, ou reconfiguração de outros recursos e
capacidades. |
Zollo e Winter (2003) |
É um padrão de atividade coletiva e
aprendida, através do qual a organização sistematicamente gera e altera as
suas rotinas operacionais em busca da melhoria da eficácia. |
Wang e Ahmed (2007) |
É uma orientação comportamental
constante da empresa em integrar, reconfigurar, renovar e recriar seus
recursos e capacidades, como também atualizar e reconstruir suas capacidades
básicas. |
Ao observar estes
conceitos, percebe-se que há uma semelhança entre os autores no que se refere
ao desempenho superior como resultado a ser buscado para a obtenção de uma
vantagem competitiva. As teorias da RBV e das capacidades dinâmicas veem a
vantagem competitiva decorrente de rotinas de alto desempenho operacional,
moldadas por processos, posições estratégicas ou trajetória organizacional
(TEECE; PISANO; SHUEN, 1997). Este desempenho pode ser medido de diversas
formas, como, por exemplo, considerando medidas de desempenho de mercado ou
medidas de rentabilidade organizacional (WANG; AHMED, 2007), ou eficácia
organizacional (ZOLLO; WINTER, 2002).
No entanto, há de se considerar que os conceitos de “capacidade” e “capacidade dinâmica” podem ser vistos de forma diferente pelos autores. Considera-se que existe um consenso na literatura atual sobre a divergência entre estes conceitos (WINTER, 2003). Wang e Ahmed (2007) estabelecem essa diferença, considerando que a capacidade dinâmica tem relação com um processo de dinamismo das capacidades alinhado ao dinamismo mercadológico, de forma constante, diferente de Teece e Pisano (1994) e Teece, Pisano e Shuen (1997) que não deixam claro esta diferença, considerando que toda capacidade envolve um dinamismo no processo de adaptação, integração e reconfiguração dos recursos organizacionais.
De fato, essas diferenças são esclarecidas em outros estudos, como, por exemplo, os estudos de Winter (2003) e Hine et al. (2013), que tratam da classificação das capacidades de uma organização do ponto de vista hierárquico. Winter (2003) considera que para que haja uma capacidade dinâmica, inicialmente, ela precisa formar capacidades básicas, isto é, uma combinação de recursos organizacionais em decorrência de um dinamismo do mercado. À medida em esta recombinação de recursos se torna constante, se tem a formação de uma capacidade dinâmica.
Referências:
BARNEY, J. Firm resources and
sustained competitive advantage. Journal
of Management, v. 17, n. 1, p. 99-120, mar. 1991.
DIXIT, A. The role of investment in
entry-deterrence. The Economic
Journal, v. 90, n. 357,
p. 95-106, mar. 1980.
EISENHARDT, K. M.; MARTIN, J. A. Dynamic capabilities: what are they? Strategic Management Journal, v. 21, n. 10-11, p. 1105-1121,
out./nov. 2000.
GRANT, R. M. The resource-based
theory of competitive advantage: implications for strategy formulation. California Management Review, v. 33, n. 3, p. 114-135, mar.
1991.
HELFAT, C. E.; PETERAF, M. A. The
dynamic resource-based view: capability lifecycles. Strategic Management Journal, v. 24, n. 10, p. 997-1010, out.
2003.
JUDGE, W. Q.; ELENKOV, D.
Organization capacity for change and environmental performance: an empirical
assessment of Bulgarian firms. Journal
of Business Research, v. 58, n. 7, p. 893-901, 2005.
PENROSE, E. A teoria do crescimento da firma. Campinas: Unicamp, 2006.
PORTER, M. E. The structure within
industries and companies’ performance. The Review of Economics and Statistics, v. 61, n. 2, p. 214-227, mai.
1979.
RUGMAN, A. M.; VERBEKE, A. Edith
Penrose´s contribution to the resource-based view of strategic management. Strategic Management Journal, v. 23, n. 8, p. 769-780, Ago.
2002.
SCHUMPETER, J. A. The theory of economy development: an inquiry into profits, capital,
credit, interest, and the business cycle. New Jersey: Transaction Publishers,
1982.
TEECE, D.; PISANO, G. The dynamics
capabilities of firms: an introduction. Industrial and Corporate Change, v. 3, n. 3, p. 537-556, 1994.
TEECE, D.; PISANO, G.; SHUEN, A.
Dynamic capabilities and strategic management. Strategic Management Journal, v. 18, n. 7, p. 509-533, ago.
1997.
WANG, C. L.; AHMED, P. K. Dynamic
capabilities: a review and research agenda. International Journal of Management Reviews, v. 9, n. 1, p. 31-51, mar. 2007.
WERNERFELT, B. A resourced-based
view of the firm. Strategic
Management Journal, v. 5, n. 2, p. 171-180, abr. /jun. 1984.
ZOLLO, M.; WINTER, S. G. Deliberate
learning and the evolution of dynamic capabilities. Organization Science, v. 13, n. 3, p. 339-351, jun.
2002.
Nenhum comentário:
Postar um comentário